quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Sem abrigo amarantino ganha a vida nas ruas da capital da Dinamarca...


Adolfo de Carvalho, 54 anos, vive há sete da recolha de garrafas nas ruas de Copenhaga, Dinamarca.
Explica que trabalha de noite "porque é quando há mais trabalho" e, sem reservas, assume-se como um "sem-abrigo” com um “ordenado” invejável para Portugal.
Natural de Amarante, Adolfo, conhecido nas ruas da capital dinamarquesa por "Porto", em conversa com a agência Lusa, garante que vai "morrer nesta cidade" porque não se está a ver a regressar a Portugal para ter um emprego que, "no máximo, daria 500 euros por mês".

Texto e fotos de Ricardo Bordalo, da Agência Lusa

A explicação é simples. Todos os dias consegue, com o seu trabalho, guardar 50 euros, "no mínimo", e "comer e beber bem", apesar de dormir na rua, "onde calha".
Um "príncipe" português que admite "reinar" nas ruas da capital dinamarquesa.

O seu "banco", onde guarda as poupanças diárias, é uma casa de banho pública, que, em Copenhaga, dispõem de cacifos que podem ser alugados ao mês, guardando os restantes haveres num carrinho de mão.

Este pequeno carro, coberto com um oleado verde "porque chove muito nestas terras", serve-lhe, ao mesmo tempo, para recolher e transportar garrafas vazias que, depois, vende por entre uma e três coroas dinamarquesas cada (entre 15 e 40 cêntimos de Euro).

Deixou a escola em Amarante onde ganhava apenas 500 euros, na Dinamarca faz três vezes mais todos os meses Adolfo de nada se queixa, até porque todos os anos faz "duas a três semanas" de férias em Portugal e "só" viaja de avião.

Já não tem família em Portugal, mas todos os anos visita um "bom amigo" que tem em Matosinhos.

Adolfo prefere ser sem-abrigo na Dinamarca do que regressar à sua antiga vida em Portugal, apesar de ser um "funcionário público" com uma licença sem vencimento "por 10 anos", sendo o seu antigo local de trabalho uma escola de Amarante, onde está(va) colocado como electricista, a sua profissão.

"Não, não me estou a ver regressar a Portugal por causa dos 500 euros que os meus antigos colegas ganham. Estou bem aqui e é aqui, em Copenhaga, que vou morrer.
Só espero que seja daqui a muitos anos", disse em conversa com o jornalista da Lusa.

"Porto", como é conhecido na cidade onde garante que é respeitado “porque se dá ao respeito” e "até onde a polícia já o conhece e cumprimenta" por saber que não é "pessoa para arranjar problemas", afirma ter "muitos amigos" que lhe dão dinheiro, mas "nunca de mão estendida" porque "mendigar, nunca!"

Antes de chegar às ruas de Copenhaga, Adolfo de Carvalho, passou por França, Holanda, Suécia "e outros países", mas em "nenhum deles" se sentiu tão bem como na Dinamarca, onde admite que um dia quer estar integrado no sistema de segurança social para poder ter um quarto que substitua as ruas, e onde quer também vender o "Hus Forbi", o jornal de rua dinamarquês.

Isto porque "aqui dão aos sem abrigo um mínimo de 7.000 coroas dinamarquesas", sendo que os seus amigos "da rua" têm esse subsídio e "até mais", como é o caso de um finlandês, Asser, a quem “Porto" chama “Esquimó”, que recebe do estado dinamarquês, "sem falta", 10.500 coroas mensalmente.

"Uma fortuna", diz Adolfo.

Adolfo é o único português a viver nas ruas de Copenhaga e garante que tem o estatuto de ser, dos actuais sem abrigo que circulam pela cidade, “o que aqui anda há mais tempo", sendo, por isso, sublinha, "um bom representante de Portugal" por estas paragens.

In "Marão Online"